
Diretora do Banco Mundial, Deborah Weitzel elogia políticas sociais praticadas pelo governo; "O Brasil está mais avançado que a maioria dos países da América Latina e dos emergentes na distribuição de renda e erradicação da miséria", disse ela; presidente do Ipea, Marcelo Neri elogia perfil do emprego que alcança "os mais pobres"; enquanto isso, Dilma promete "não descansar" até que todos os brasileiros tenham "um lar digno"
A argumentação oficial do governo sobre a baixa taxa de
crescimento do do PIB, de 0,9% no ano passado, ganhou aval de uma instituição
de credibilidade internacional. Para a administração Dilma, apesar do chamado
'pibinho', o País conseguiu manter intactos seus programas de assistência
social à população. O mesmo registro foi feito pela diretora do Banco Mundial
em visita ao Brasil, Deborah Weitzel.
"Os avanços do Brasil são impressionantes, disse a
responsável por um orçamento de US$ 3 bilhões para programas sociais no Brasil,
em entrevista à Agência Brasil. "Desde 2010, o país cumpriu a Meta do
Milênio [conjunto de ações propostas pelas Nações Unidas para serem alcançadas
até 2015] referente à redução da pobreza. O Brasil está mais avançado do que a
maioria da América Latina e dos países emergentes na distribuição de renda e
nas políticas sociais". Para Deborah Witzel, o Brasil "tormou-se um
grande exportador de ideias, enquanto muitos outros regrediram".
Na mesma linha de argumentação, o presidente do Ipea, Marcelo
Neri, elogiou nesta segunda-feira 4 o perfil do emprego no Brasil em 2012.
"O mercado de trabalho continua movimentando a redução da
desigualdade", disse ele. "Aqueles de menor educação, em regiões mais
pobres, aqueles que moram em periferia, negros, mulheres, segmentos tradicionalmente
excluídos, têm tido um desempenho melhor".
Para acentuar seu compromisso com essas políticas, a presidente
Dilma Rousseff conheceu nesta segunda-feira, pela primeira vez, a Paraíba. Ela
esteve na capital João Pessoa para entregar 576 unidades habitacionais que foram
feitas como parte do programa Minha Casa, Minha Vida. Ali, em discurso, a
presidente afirmou que não irá "descansar" até que todos brasileiro
tenham não apenas um teto "sobre sua cabeça, mas um lar digno para ser
feliz". A afirmação deixa claro que não haverá mudanças no atual
encaminhamento das políticas sociais do governo Dilma.
Abaixo, notícias da Agência Brasil com
entrevista da diretora do Banco Mundial Deborah Witzel, sobre a visita de Dilma
à Paraíba e as análises do presidente do Ipea sobre o perfil do emprego no
Brasil:
Diretora do Banco Mundial elogia manutenção de
políticas sociais no Brasil
Brasília – Enquanto a crise
econômica internacional fez a política social em diversos países regredir, o
Brasil soube manter as melhorias para as camadas mais pobres da população e, ao
mesmo tempo, preservar a estabilidade macroeconômica. A avaliação é da diretora
do Banco Mundial (Bird) para o Brasil, Deborah Wetzel. Ela reconhece que o país
ainda tem muitos desafios a superar, mas está mais avançado do que a maioria
das nações emergentes e da América Latina no combate à pobreza e na
redistribuição de renda.
No cargo desde abril do ano passado, Deborah Wetzel administra
um orçamento de US$ 3 bilhões por ano para o país, dos quais metade está
aplicada na Região Nordeste. Em entrevista à Agência Brasil, ela diz que
considera o Brasil um grande exportador de políticas de proteção social, de
segurança pública e de desenvolvimento sustentável. Em relação à sua gestão, a diretora
destaca que pretende dar continuidade à ampliação do foco de atuação do Banco
Mundial.
Em vez de se concentrar no financiamento a empreendimentos de
infraestrutura, a instituição, nos últimos anos, tem passado cada vez mais a
apoiar projetos sociais vinculados a metas e à gestão de resultados. A
capacitação de gestores públicos, o atendimento a usuários de drogas, o aumento
da produtividade agrícola e o combate à violência contra a mulher estão entre
os projetos atualmente financiados no Brasil. Algumas dessas ações serão
mostradas ao presidente do Bird, Jim Yong Kim, que chega amanhã (4) ao Brasil
para uma visita de três dias.
Leia abaixo a entrevista com Deborah Wetzel:
Agência Brasil – Como a senhora definiria sua
gestão? Quais são os principais projetos financiados atualmente pelo Banco
Mundial no Brasil?
Deborah Wetzel – Nosso programa
está alinhado com as metas e o objetivo do governo na redução da pobreza e da
desigualdade. Temos US$ 3 bilhões de empréstimos por ano no Brasil, dos quais
80% estão investidos em parcerias com estados. O acesso à educação e à saúde, a
inclusão social de mulheres e pobres, a mobilidade urbana e o apoio aos
programas Luz para Todos e Brasil sem Miséria são alguns dos principais
projetos financiados hoje. Ainda existem ações tradicionais, ligadas a
investimentos em infraestrutura, mas o banco tem financiado, cada vez mais,
projetos vinculados a resultados, em que as parcelas dos empréstimos são
liberadas à medida que as metas sejam alcançadas.
ABr – Como o banco define os projetos a serem
financiados? Que avanços já podem ser sentidos?
Deborah Wetzel – Olhamos as
necessidades do Brasil e definimos onde aplicar os recursos. Proteção social,
educação, saúde e combate aos efeitos das mudanças climáticas atualmente são
nossas prioridades. Os avanços do Brasil são impressionantes. Desde 2010, o
país cumpriu a Meta do Milênio [conjunto de ações propostas pelas Nações Unidas
para serem alcançadas até 2015] referente à redução da pobreza. O Brasil está
mais avançado do que a maioria da América Latina e dos países emergentes na
distribuição de renda e nas políticas sociais.
O Brasil é um grande exportador de ideias. Experiências como o
Bolsa Família, as UPPs [unidades de Polícia Pacificadora], o desenvolvimento
sustentável em comunidades extrativistas e a melhoria da produtividade agrícola
despertaram o interesse do mundo e dão voz ao país nas conferências
internacionais. Enquanto muitos países regrediram [nas políticas sociais] com a
crise econômica mundial, o Brasil manteve as conquistas sociais, ao mesmo tempo
em que conseguiu preservar a estabilidade macroeconômica. Para crescer, é
preciso tanto inclusão social como estabilidade. O Brasil está conciliando as
duas coisas. Sem contar que o Brasil está conseguindo crescer cuidando do meio
ambiente. O desmatamento está no nível mais baixo das últimas décadas.
ABr – Apesar dos avanços na distribuição de
renda, o país ainda deixa a desejar na qualidade da educação, da saúde pública
e está longe de fornecer saneamento para toda a população. O que precisa ser
feito para progredir nessas áreas?
Deborah Wetzel – De fato, o
Brasil ainda tem muito a avançar nessas áreas, mas os avanços podem ser
observados. Em relação à educação, o país fornece acesso à escola para
praticamente todas as crianças. Claro que a qualidade do ensino precisa ser
trabalhada, mas o número de crianças em escolas integrais está aumentando, e as
notas no Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos] e no Ideb [Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica] estão melhorando a cada ano.
Em relação à saúde, os investimentos nas UPAs [unidades de
Pronto-Atendimento] e no Programa Saúde da Família [de atendimento domiciliar]
estão tendo resultados bem impressionantes e desafogando os hospitais. O Banco
Mundial está trabalhando para melhorar o acesso aos medicamentos e ao
treinamento de profissionais. No saneamento, realmente o Brasil está mais
atrasado, mas os investimentos estão sendo feitos, e o país progride aos
poucos. Financiamos muitos projetos nessa área no Norte e no Nordeste. Aliás, o
Nordeste concentra 50% dos recursos investidos pelo banco hoje no país.
ABr – Uma das críticas ao Bolsa Família é que
o programa não fornece uma porta de saída. Boa parte dos beneficiários não
consegue se inserir no mercado de trabalho e, segundo os críticos, passa a
depender eternamente do governo. Como superar esse ciclo?
Deborah Wetzel – Esse tipo de
questionamento é normal neste momento do programa, que completa dez anos. Ao
mesmo tempo em que o governo fornece proteção social, precisa incluir essas
pessoas na produção. Só que os críticos esquecem que os resultados levam muito
tempo para aparecer. É um trabalho de gerações, até porque envolve mudança de
comportamento e melhoria na qualificação profissional. Os filhos dos beneficiários
vão à escola integral três vezes mais hoje do que antes do Bolsa Família e
estarão muito mais preparados para entrar no mercado de trabalho.
Mesmo assim, o Brasil sem Miséria tem componentes para dar esse
tipo de oportunidade para a geração atual, como programas de microcrédito. Sem
falar que o Bolsa Família eleva o consumo e os investimentos nas áreas mais
pobres. O programa tem retornos crescentes no longo prazo, mas os resultados no
curto prazo também são expressivos.
ABr – Outro problema social que explodiu nos
últimos anos foi o consumo de drogas nos centros urbanos. O Banco Mundial
também está atento a essa questão?
Deborah Wetzel – Apoiamos
projetos de ajuda a viciados em três cidades: no Rio de Janeiro, em São Paulo e
no Recife. Os projetos oferecem atendimento médico, psicológico e, no caso do
Recife, encaminham os pacientes para casas de apoio. Essa é uma das áreas novas
de atuação do Banco Mundial. As drogas são um exemplo de como os problemas
sociais são ligados e exigem respostas transversais. Precisamos trabalhar dos
dois lados, dando tratamento e oportunidade econômica.
ABr – O que a senhora espera da visita do
presidente do Banco Mundial ao Brasil?
Deborah Wetzel – Quero mostrar os
sucessos das ações brasileiras de combate à pobreza e de enfrentamento aos mais
diversos problemas sociais. O Brasil é um país descentralizado, com
experiências de gestão que envolvem vários setores do governo e da sociedade. O
Banco Mundial fez muito com o Brasil, mas também aprendeu muito com o país.
Fonte: Brasil247
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