Pressão popular reverte uso de cisterna de placas em Caraúbas

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

As casas da zona rural de Caraúbas vão receber 634 cisternas de placa de cimento de 16 mil litros nos próximos sete meses. No ano passado, Caraúbas estava na lista dos 11 municípios do estado predestinados a ter as cisternas de polietileno distribuídas pelo Ministério da Integração Nacional. Uma intensa mobilização da sociedade, capitaneada pelas organizações que fazem parte da Articulação Semiárido Potiguar, e que contou com a adesão do poder público local, promoveu a resistência das famílias à instalação dos reservatórios de polietileno, um tipo de plástico, e pressionou governo federal a mudar o tipo de tecnologia oferecido à população rural.


Das 273 cisternas previstas, cerca de 30 ainda estão armazenadas no campus da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), que fica no município. Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caraúbas e coordenador do Fórum das Associações Comunitárias de Caraúbas, José Maria Júnior, houve casos de famílias, que já estavam com o buraco cavado para colocar as cisternas, não permitiram mais sua instalação. “A grande maioria que recebeu as cisternas tem desejo de tirá-las para ter uma de placa”, acrescenta ele.

Em novembro de 2012, foi exibida, em rede nacional, uma reportagem do Programa Globo Rural que mostra a rejeição das famílias agricultoras caraubenses a este tipo de cisternas.

Essa resistência se dá por vários motivos. Um deles é que o polietileno não faz uma proteção térmica como as cisternas de cimento. A água, que serve para as pessoas beberem, fica quente quando guardadas nela. Outra questão é que elas custam mais que o dobro do valor das cisternas de placa e são os recursos públicos que pagam esse preço. Além disso, sua fabricação não movimenta a economia local. Como se não bastasse, as cisternas de plástico têm apresentado defeitos em vários estados do Nordeste, inclusive em Caraúbas, onde cerca de 45 deram problema.

Resistência - No período de mobilização das famílias agricultoras, foram realizadas diversas reuniões na sede do município e nas comunidades rurais, que originaram um documento enviado à prefeitura e à Fundação Nacional de Saúde (Funasa), órgão responsável pela instalação das cisternas de polietileno em Caraúbas. Houve também três audiências públicas com técnicos, sociedade civil e poder público, nas quais a cisterna de placas era sempre apresentada como opção mais coerente do ponto de vista do desenvolvimento local, nas dimensões econômica, social e estrutural.

A prefeitura aderiu ao movimento de resistência às cisternas de polietileno e enviou para Superintendência da Funasa um documento em que pedia a suspensão da entrega dos 273 reservatórios destinados ao município. Depois de muitos debates, o munícipio foi então disponibilizado, através do Programa Água para Todos, para ser atendido com recursos da Fundação Banco do Brasil (FBB) que tem sido parceira da ASA e optado pela disseminação das cisternas de placas, através do apoio ao Programa Um Milhão de Cisternas.

Dona Maria Luiza, moradora e articuladora da comunidade de Fortuna, é símbolo desta luta do Focampo. Há 13 anos faz parte da associação de sua comunidade e sempre sonhou em ter uma cisterna. Ela conta que, certo dia, quando não estava em casa,  cadastraram-na para receber uma cisterna, sendo que era a de polietileno.

Dependente de uma adutora que envia água de dois em dois meses a sua casa, teve de aceitar o reservatório de polietileno e afirma que todo o processo foi desrespeitoso. “Queriam determinar onde escavar o buraco. Depois colocaram a cisterna dentro dele e não aterraram. Daqui uns dias choveu bastante no município e a cisterna ficou boiando, como uma arca de Noé”, conta ela.

Verônica Pragana é jornalista da Asacom
Rafael Neves é assessor de coordenação do P1MC

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