Artigo: Comunicação e participação cidadã

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Por Juciano de Sousa Lacerda - prof. Dr. do PPG em Estudos da Mídia/UFRN e coordenador acadêmico do VIII Muticom

Entre o início do Século XX e os anos de 1940, tivemos grandes transformações na sociedade ocidental: duas guerras mundiais, uma grande crise internacional e o surgimento de regimes totalitários como o Nazismo (Alemanha), Facismo (Itália) e um modelo de governo comunista na antiga União Soviética, mas fortemente marcado por um totalitarismo de estado. Além disso, pudemos perceber o surgimento de um “totalitarismo” de mercado, nos Estados Unidos, com o fortalecimento de um mercado em que consumir para crescer e desenvolver era quase uma política de estado. No meio de tudo isso, vimos a consolidação do campo midiático na sociedade ocidental. O cinema se consolidou como modelo comercial, o padrão Hollywood. O rádio comercial se sobrepôs aos modelos das sociedades educativas. A imprensa se constituiu como indústria da informação, vendendo notícias e tendo a publicidade comercial como aliado. E veio a Televisão. Como disse Eliseo Verón, pesquisador argentino, se tratava da Sociedade Midiática, em que os meios de comunicação de massas se consolidaram.

Nessa sociedade midiática, como sociedade de massas, cada um de nós era visto como indivíduo isolado que era diretamente influenciado pelas estratégias informativas, pelas campanhas publicitárias de mercado e de estado. Surgiu no senso comum da época, um conjunto de hipóteses que diziam que nós éramos totalmente influenciados pelos meios de comunicação. A chamada Teoria da Bala Mágica, ou seja, os conteúdos dos meios de comunicação de massas nos atingiam como uma bala. É por isso que viramos “público alvo” para os publicitários, editores de jornal, produtores de cinema e televisão. Éramos vistos como uma massa que não tinha ideias próprias; simplesmente, passivos diante das manobras dos meios de comunicação. Vieram outras pesquisas sociais, influenciadas pelas teorias dos grupos sociais, e se percebeu que nós conversávamos entre nós, e nos influenciávamos também, não só a mídia. Daí, começaram a dar um maior valor a decisões do público. Então, foram percebendo que os efeitos da mídia eram limitados ou em longo prazo.

Pensadores como o jamaicano Stuart Hall, um dos fundadores da Escola dos Estudos Culturais na Inglaterra, apontaram nos anos 60 que cada um de nós é ativo na relação com os meios de comunicação. Nós compreendemos as mensagens midiáticas e, no mínimo, podemos concordar com elas (leitura dominante), discordar com algumas ideias e concordar com outras (leitura negociada) ou não concordar de jeito nenhum com aquilo que nos é informado ou publicizado (leitura de oposição).

Bom, foi um avanço percebermos que os públicos não são passivos diante dos meios de comunicação de massas. Mas será que participar da comunicação na sociedade contemporânea pode se resumir a ser receptor ativo/crítico das mensagens da TV, dos jornais e revistas impressos, do cinema, do rádio e mesmo da Internet? Queremos mais! Queremos também ter o direito de, organizados em nossos grupos sociais e comunitários, ter canais para produzir e fazer circular nossos pensamentos, notícias, ideias, imagens, músicas, textos etc. Principalmente, quando falamos de meios de comunicação que usam o espaço eletroeletrônico para transmissão de dados, pois se trata de um bem público que é cedido, na forma de concessão, para grandes empresários e, principalmente, políticos. É preciso um novo marco regulatório para as comunicações sociais no Brasil que preservem o direito de o cidadão ter pluralidade de oferta, ter canais para se manifestar, de saber dos fatos e conhecer os produtos culturais de sua região, não somente de alguns centros importantes do País. Vamos conhecer no VIII Muticom experiências em que a sociedade também é participante do processo da comunicação.

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Fonte: Tribuna do Norte

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