Chico Buarque e a opressão militar

quinta-feira, 22 de março de 2012



Francisco Buarque de Holanda nasceu no Rio de Janeiro em 1944. É comum pensar-se que entre o letrista de música e o poeta há a mesma distância que entre o tecladista de uma banda musical e um pianista clássico. Tal consideração reflete uma maneira estanque de se pensar a arte, isto é, a partir de categorias imutáveis e bem definidas. O fenômeno artístico, entretanto, irrompe com muita freqüência nas zonas fronteiriças entre essas categorias; mais do que isso, o movimento entre registros aparentemente imóveis pode constituir uma expressão artística por si só. A resistência em atribuir valor poético à obra de Chico Buarque é um grande exemplo dessa obtusidade crítica. Depois do lançamento de dois romances de grande sucesso, porém, essa resistência vem sendo vencida. Sua poética é hoje plenamente reconhecida.


A Ditadura Militar

Chico Buarque foi um dos artistas brasileiros mais perseguidos durante o período da ditadura militar. Suas composições denunciavam aspectos sociais, econômicos e culturais da Ditadura e várias delas, como a clássica canção Cálice, que faziam alusões ao presidente da época e à falta de liberdade de expressão foram censuradas.

Ameaçado pelo Regime Militar no Brasil, esteve exilado na Itália em 1969, onde chegou a fazer espetáculos com Toquinho. Nessa época teve suas canções Apesar de você (que dizem ser uma alusão negativa ao presidente Emílio Garrastazu Médici, mas que Chico sustenta ser em referência à situação) e Cálice proibidas pela censura brasileira. Adotou o pseudônimo de Julinho da Adelaide, com o qual compôs apenas três canções: Milagre Brasileiro, Acorda amor e Jorge Maravilha. Na Itália Chico tornou-se amigo do cantor Lucio Dalla, de quem fez a belíssima Minha História, versão em português (1970) da canção Gesù Bambino (título verdadeiro 4 marzo 1943), de Lucio Dalla e Paola Palotino.

Ao voltar ao Brasil continuou com composições que denunciavam aspectos sociais, econômicos e culturais, como a célebre Construção ou a divertida Partido Alto. Apresentou-se com Caetano Veloso (que também foi exilado, mas na Inglaterra) e Maria Bethânia. Teve outra de suas músicas associada a críticas a um presidente do Brasil. Julinho da Adelaide, aliás, não era só um pseudônimo, mas sim a forma que o compositor encontrou para driblar a censura, então implacável ao perceber seu nome nos créditos de uma música. Para completar a farsa e dar-lhe ares de veracidade, Julinho da Adelaide chegou a ter cédula de identidade e até mesmo a conceder entrevista a um jornal da época.
 
 


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