As
casas da zona rural de Caraúbas vão receber 634 cisternas de placa de
cimento de 16 mil litros nos próximos sete meses. No ano passado,
Caraúbas estava na lista dos 11 municípios do estado predestinados a ter
as cisternas de polietileno distribuídas pelo Ministério da Integração
Nacional. Uma intensa mobilização da sociedade, capitaneada pelas
organizações que fazem parte da Articulação Semiárido Potiguar, e que
contou com a adesão do poder público local, promoveu a resistência das
famílias à instalação dos reservatórios de polietileno, um tipo de
plástico, e pressionou governo federal a mudar o tipo de tecnologia
oferecido à população rural.
Das
273 cisternas previstas, cerca de 30 ainda estão armazenadas no campus
da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), que fica no
município. Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Caraúbas e coordenador do Fórum das Associações Comunitárias
de Caraúbas, José Maria Júnior, houve casos de famílias, que já estavam
com o buraco cavado para colocar as cisternas, não permitiram mais sua
instalação. “A grande maioria que recebeu as cisternas tem desejo de
tirá-las para ter uma de placa”, acrescenta ele.
Em
novembro de 2012, foi exibida, em rede nacional, uma reportagem do
Programa Globo Rural que mostra a rejeição das famílias agricultoras
caraubenses a este tipo de cisternas.
Essa
resistência se dá por vários motivos. Um deles é que o polietileno não
faz uma proteção térmica como as cisternas de cimento. A água, que serve
para as pessoas beberem, fica quente quando guardadas nela. Outra
questão é que elas custam mais que o dobro do valor das cisternas de
placa e são os recursos públicos que pagam esse preço. Além disso, sua
fabricação não movimenta a economia local. Como se não bastasse, as
cisternas de plástico têm apresentado defeitos em vários estados do
Nordeste, inclusive em Caraúbas, onde cerca de 45 deram problema.
Resistência
- No período de mobilização das famílias agricultoras, foram realizadas
diversas reuniões na sede do município e nas comunidades rurais, que
originaram um documento enviado à prefeitura e à Fundação Nacional de
Saúde (Funasa), órgão responsável pela instalação das cisternas de
polietileno em Caraúbas. Houve também três audiências públicas com
técnicos, sociedade civil e poder público, nas quais a cisterna de
placas era sempre apresentada como opção mais coerente do ponto de vista
do desenvolvimento local, nas dimensões econômica, social e estrutural.
A
prefeitura aderiu ao movimento de resistência às cisternas de
polietileno e enviou para Superintendência da Funasa um documento em que
pedia a suspensão da entrega dos 273 reservatórios destinados ao
município. Depois de muitos debates, o munícipio foi então
disponibilizado, através do Programa Água para Todos, para ser atendido
com recursos da Fundação Banco do Brasil (FBB) que tem sido parceira da
ASA e optado pela disseminação das cisternas de placas, através do apoio
ao Programa Um Milhão de Cisternas.
Dona
Maria Luiza, moradora e articuladora da comunidade de Fortuna, é
símbolo desta luta do Focampo. Há 13 anos faz parte da associação de sua
comunidade e sempre sonhou em ter uma cisterna. Ela conta que, certo
dia, quando não estava em casa, cadastraram-na para receber uma
cisterna, sendo que era a de polietileno.
Dependente
de uma adutora que envia água de dois em dois meses a sua casa, teve de
aceitar o reservatório de polietileno e afirma que todo o processo foi
desrespeitoso. “Queriam determinar onde escavar o buraco. Depois
colocaram a cisterna dentro dele e não aterraram. Daqui uns dias choveu
bastante no município e a cisterna ficou boiando, como uma arca de Noé”,
conta ela.
Verônica Pragana é jornalista da Asacom
Rafael Neves é assessor de coordenação do P1MC
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