A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou nesta quinta-feira (24) o monopólio midiático no Brasil, que parece “pouco modificado, 30 anos após a ditadura militar (1964-1985)”.
A ONG definiu o Brasil como o “país dos 30 Bersluconi”, em referência
ao magnata italiano da mídia e ex-primeiro ministro italiano.
Uma investigação da RSF, realizada em novembro e revelada nesta
quinta-feira, mostra que fora uma dezena de grupos que dividem o
monopólio da informação principalmente no eixo Rio-São Paulo, o País
“conta com múltiplos meios de comunicação regionais, fragilizados pela
extrema dependência em relação aos grandes centros de poder nos
estados”.
“Uma tutela que afeta diretamente a independência” da imprensa, além
de ser um “vetor de insegurança”, ressalta a organização. A ONG lembra
que 11 jornalistas e blogueiros foram assassinados no Brasil em 2012, o
que coloca o país na quinta posição entre as nações com mais registros
de mortes na área. Dois outros foram forçados ao exílio por questões de
segurança.
No ano passado, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) colocou o
Brasil na lista dos países mais perigosos para o exercício da profissão
na América Latina, onde 19 assassinatos de jornalistas foram
denunciados, seis deles no Brasil.
Devido a este cenário, a organização considerou o Brasil como uma espécie de “país dos 30 Bersluconi”.
“O Brasil apresenta um nível de concentração de mídia que contrasta
totalmente com o potencial de seu território e a extrema diversidade de
sua sociedade civil”, explica a ONG de defesa da liberdade de imprensa.
“O colosso parece ter permanecido impávido no que diz respeito ao
pluralismo, um quarto de século depois da volta da democracia”, assinala
a RSF.
Segundo a ONG, um dos problemas endêmicos do setor da informação no
Brasil é a figura do magnata da imprensa, que “está na origem da grande
dependência da mídia em relação aos centros de poder”.
“Dez principais grupos econômicos, de origem familiar, continuam repartindo o mercado da comunicação de massas”, lamenta a RSF.
Sempre segundo a RSF, a este sistema se acrescenta a censura na
internet e denúncias que levaram ao fechamento de blogs durante as
eleições municipais de 2012.
Nesse sentido, citou o caso do diretor do Google Brasil, que ficou
preso brevemente por não retirar do YouTube um vídeo que teoricamente
atacava um candidato a prefeito.
A organização faz referência a Fábio José Silva Coelho, que foi preso
pela Polícia Federal em setembro passado a pedido do candidato a
prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal.
Para reequilibrar o cenário da mídia brasileira, a Repórteres Sem
Fronteiras recomenda reformar a legislação sobre a propriedade de
grandes grupos e seu financiamento com publicidade oficial, assim como a
melhoria da atribuição de frequências audiovisuais para favorecer os
meios de comunicação e um novo sistema de sanções que não inclua o
fechamento de mídias ou páginas, entre outras medidas.
(Carta Capital)
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