Francisco
Buarque de Holanda nasceu no Rio de Janeiro em 1944. É comum pensar-se que
entre o letrista de música e o poeta há a mesma distância que entre o
tecladista de uma banda musical e um pianista clássico. Tal consideração
reflete uma maneira estanque de se pensar a arte, isto é, a partir de
categorias imutáveis e bem definidas. O fenômeno artístico, entretanto, irrompe
com muita freqüência nas zonas fronteiriças entre essas categorias; mais do que
isso, o movimento entre registros aparentemente imóveis pode constituir uma
expressão artística por si só. A resistência em atribuir valor poético à obra
de Chico Buarque é um grande exemplo dessa obtusidade crítica. Depois do
lançamento de dois romances de grande sucesso, porém, essa resistência vem
sendo vencida. Sua poética é hoje plenamente reconhecida.
A
Ditadura Militar
Chico Buarque foi um dos artistas
brasileiros mais perseguidos durante o período da ditadura militar. Suas
composições denunciavam aspectos sociais, econômicos e culturais da Ditadura e
várias delas, como a clássica canção Cálice, que faziam alusões ao presidente
da época e à falta de liberdade de expressão foram censuradas.
Ameaçado pelo Regime Militar no Brasil, esteve exilado
na Itália em 1969, onde chegou a fazer espetáculos com Toquinho. Nessa época
teve suas canções Apesar de você (que dizem ser uma alusão negativa ao presidente
Emílio Garrastazu Médici, mas que Chico sustenta ser em referência à situação)
e Cálice proibidas pela censura brasileira. Adotou o pseudônimo de Julinho da
Adelaide, com o qual compôs apenas três canções: Milagre Brasileiro, Acorda
amor e Jorge Maravilha. Na Itália Chico tornou-se amigo do cantor Lucio Dalla,
de quem fez a belíssima Minha História, versão em português (1970) da canção
Gesù Bambino (título verdadeiro 4 marzo 1943), de Lucio Dalla e Paola Palotino.
Ao voltar ao Brasil
continuou com composições que denunciavam aspectos sociais, econômicos e
culturais, como a célebre Construção ou a divertida Partido Alto. Apresentou-se
com Caetano Veloso (que também foi exilado, mas na Inglaterra) e Maria
Bethânia. Teve outra de suas músicas associada a críticas a um presidente do
Brasil. Julinho da Adelaide, aliás, não era só um pseudônimo, mas sim a forma
que o compositor encontrou para driblar a censura, então implacável ao perceber
seu nome nos créditos de uma música. Para completar a farsa e dar-lhe ares de
veracidade, Julinho da Adelaide chegou a ter cédula de identidade e até mesmo a
conceder entrevista a um jornal da época.
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